domingo, 6 de março de 2016

O que nos excita

No balcão, um jovem de nossa idade mexia lentamente a cabeça em sintonia com a música elétrica. O ambiente era propício e favorável para aquele estereótipos. Em suas costas uma suástica brilhava na jaqueta que vestia, em LED’s vermelhos, é a última moda entre os nazistas, uma bela jaqueta de couro com uma suástica.
Ainda era cedo e o estabelecimento estava quase vazio, a música ainda soava numa frequência hipnótica, talvez seja ela que transforme tantos jovens em adeptos do nazismo, é claro que este gênero não me agrada, mas em 1918 nenhum lugar toca nem mesmo Wagner, quando mais um Beethoven.
Essa música elétrica infectou a cidade como a Gestapo, em todos os lugares agentes da URSS e da Alemanha Unida estão fumando um cigarro, bebendo vodca ou espancando um mulato na esquina por não ter obedecido ao toque de recolher para negros.
Por eu e meu amigo sermos brancos, podíamos nos deliciar com a maravilhosa música elétrica que a cada dia forma nazistas e mais nazistas numa progressão geométrica. Pois sim, se trata de uma ironia, não seria menos do que isso, mas confesso que até mesmo eu já estou aprendendo a reconhecer os estampidos, chiados, silvos e as diferentes frequências dessa nova corrente musical.
A verdade é que este som todo parece nos colocar numa tempestade de raios no olho do Maelstrom pulse. O pulso eletromagnético russo que obliterou a frota marítima e aérea da Inglaterra. Deve ser dos chiados dos mortos e das descargas elétricas daquele genocídio que surgiram esses sons.... Não consigo pensar em outra coisa que não isso.
É desta forma que embriagado pela música decidimos pedir vodca, vetores de luzes dançavam pelo bar e a todo tempo seria possível delirar como holofotes soviéticos fritando seus neurônios. Os efeitos de luzes irritavam meus olhos, um caleidoscópio cobrindo todas as paredes do bar e as pessoas a medida que se moviam.
Admito que nestes bares é possível ficar meio louco, grogue ou extasiado sem o uso de álcool ou pilhas... Não sei se hoje é o dia de ficar pilhado... Quero me manter são, não deveria ter vindo até aqui, um pessoal bem diferente está frequentando o lugar.
– Tem isqueiro? Obrigado.
Por agora talvez só fumar, beber e tentar esquecer estas luzes, me fritam a cabeça, não é disso que gosto, não gosto de sentir meu cérebro derreter com essa merda toda.
– Vou dar uma carga, já volto.
No banheiro as propagandas do “mundo global” de sempre, um neon do Tesla em alta definição, ele tinha um moicano como corte de cabelo, ao estilo dos elmos romanos com plumagens coloridas.
– É Tesla... Essa aqui é pra você!
Peguei a pilha que sempre costumava usar, já estava habituado aos seus volts, peguei o transmissor, o tubo da pilha, e injetei no músculo da coxa. O tesão foi imediato, meu corpo se chacoalhou por dois segundos, meus cabelos se espetaram e um leve deleite passou pelas minhas entranhas correndo pelo corpo num só pulso e terminando nos meus testículos.
Suspirei e fechei os olhos, sorri... Estava recarregado e pronto para sobreviver àqueles espectros de cores lá fora. Meu amigo disse que um olho meu parecia ainda um pouco desarticulado. Mas logo voltaria ao normal.
– Pode acreditar, essas luzes estão atrapalhando mais minha visão....  Parece que esta onda de luminosidade só tende a se expandir.
– É o que você sempre diz.
O efeito em breve passaria, melhor, os efeitos colaterais, eu voltaria a ficar um chato com ele, com Felipe, meu amigo. E havia motivos para tal, eu o acompanhava para uma apresentação de luminescência, as luzes seriam apagadas e algum artista louco e delirante por comprimentos de ondas eletromagnéticas iria propor desenhos no negrume do bar.
Esta parece ser outra comunhão religiosa dos com pactos ao deus Magneto e glorificação dos Nêutrons e Elétrons, com o intuito de obter fótons. Me parece mais uma Igreja com cristãos ortodoxos, ao invés temos um monte de nazistas... Me perdoe, talvez pague com a língua, mas me dei-me os malditos cristãos e devolva aquele cara pregado numa cruz para o Vaticano!
Minha mente se acelerava e meus olhos estalados queriam gritar na escuridão. Mas logo apareceram as luminescências flutuando no bar, começaram com fótons amarelados, depois tapei minha visão e pedi para que Felipe me avisasse chegado ao término da apresentação.
Estranhamente me senti excitado, Felipe neste momento estava muito próximo de mim, sentia o cheiro da sua pele, o calor que saía do seu corpo, me imaginei chupando sua vara, minha boca salivou e tremi por dentro, senti angústias, quando eu poderia revelar a ele meu gosto por homens? Num país que a cada minuto um afeminado vai parar na cadeira elétrica?
Toda vez que penso em nossa amizade, imagino o quanto ela é forte para ser ao menos compreendido, para não ser denunciado a delegacia... Nem sei se ele se simpatiza com o nazismo, pois até isso é difícil falar com um ser humano sem correr o risco de ser preso por subversão e receber umas boas doses de sessões de choques, nenhum pouco parecidas com o pulso de dar uma recarga, agora eles podem fazer você só sentir dor...
Tem um fio de eletrocussão em cada distrito policial... O quanto vale este meu desejo? Se não for pelos soviéticos, ou pela Alemanha Unida, será por minhas próprias mãos? Me embrulha o estômago pensar que meu mundo só fara sentindo com meus desejos sexuais realizados.
Abri os olhos e havia acabado a apresentação alucinógena, todos pareciam dopados e que não se lembrariam caso beijassem uma boca homossexual.
– Olá, senhores.
– Não, Demitri, sem delongas. Aquele último lote de pilha foi ruim, não tremi nem por meio segundo.
– Eu to com uma pilha eletroloca, agora, confia.
– Não, não quero.
– Essa aqui não é qualquer comprimento de onda.  Vai fazer seus nervos saltarem!
– Eu conheço dessas, não gosto dos volts elevados.
– Não, você não conhece, peguei com um cara da Gestapo. Trouxe direto da Alemanha! Essa pilha vai levar seus sangue para o crânio e você vai disparar centelhas de tesão! Você é meu camarada. Toma, leva uma, depois você me procura. É uma amostra grátis.
– E quem garante que as outras serão como essa?
Ele riu e gargalhou longamente.
– A Gestapo, amigo! A Gestapo!
Levantou-se com um sorriso sardônico e foi-se embora. Na suas costas a suástica brilhava em um neon vermelho.
O tempo passando, luzes girando, um espectro de tom azul correndo por paredes e pinturas, um mosaico da modernidade, aquilo girava em minha mente, ou seria o ápice de nossa amizade que estava dando enjoos?
Não sei até que ponto tudo isso se confunde, os brilhos e reflexos nos olhos me incomodam, não tenho este fascínio por elas, prefiro sentir as correntes elétricas dançando em meu corpo. Queria sair dali...
– Conhece o morro escuro?
– Só de ouvir falar. Dizem que lá é escuro
Rimos falsamente.
– Quero recarregar lá, peguei uma pilha com aquele cabeça raspada.
– Tudo bem, vamos lá. A vista deve ser ao menos interessante.
– Como falei outras vezes, Felipe, muito melhor que estas nebulosas.
– Duvido que seja, mas a experiência é sempre excitante.
– É a palavra certa!
– Experiência?
– Excitante.
Gargalhamos e brindamos nosso último copo de vodca que nem lembrava como havia ido parar aquela garrava na mesa, mas sabia não ter bebido muito, ainda poderia dirigir meu Denmark, 1890, carro dinamarquês conceituado ainda, sendo o melhor dos primeiros veículos movidos a dínamos eletromagnéticos.
Fui dirigindo e Felipe bebendo a vodca, não andamos mais de oito quilômetros em profundo silêncio introspectivo e o vasilhame havia acabado neste percurso, ao chegarmos ao Morro Escuro.
– O pessoal da Gestapo costuma dispensar alguns cadáveres aqui, ouviu esta história alguma vez?
– Vi isto acontecendo. Mas o que achou da vista? – Não queria entrar naqueles assuntos, iriam desviar minhas pretensões.
– É uma cidade brilhante e tanto, mas prefiro as nebulosas.
Dei um meio sorriso. Um pouco a frente víamos de um pequeno mirante um horizonte de luzes brancas, amarelas, vermelhas e azuis.
– Eu acho uma bela composição...
Me aproximei um pouco mais dele, embriagado do modo como costuma ficar, mas desta vez existia uma real chance. Com ele poderia ser tudo diferente, mas não foi.
Com um ímpeto alcoólatra ele se desvencilhou da minha mão que tocava seu ombro, furioso fitou-me com olhos em chamas e sibilou:
– Tenho a nítida certeza que confundiu minha sincera amizade! Uma pena, pois pensei ser um homem de verdade, – tentei intervir, mas não consegui, ele me cortou e subiu o tom – não pense que pode abusar de mim se aproveitando do meu estado etílico!
– Felipe...
– Não! Eu como um cidadão de bem venho a cumprir meu dever e declarar-te voz de prisão por homossexualidade!
Felipe caiu se contorcendo no chão com o choque elétrico que recebera de minha arma, teve alguns espasmos e depois tentou recuperar o fôlego enquanto iniciava o meu discurso. 
– É pena, pois pensei que nada disso seria necessário.
– Seu filho da puta. Bicha desgraçada. Ah, ah, ah!
Dei-lhe outra sessão de choques para que batesse os dentes, só para ter o deleite em vê-lo se contorcendo.
– É uma pena como falou, uma pena ser heterossexual e querer me prender, mas hoje quem sorri sou eu e quem morre é você.
– Você não tem coragem! – Bradou cuspindo – Você não tem culhão para me matar! Você não é homem!
Eu injetei aquela pilha no músculo, a corrente explodiu em meu cérebro, meus olhos saltaram, esqueci por que aquele corpo estava no chão, tremi inteiro e cerrei os dentes por três segundos num deleite onírico, a Gestapo entendia de choques.
Meu coração sentiu alegria, um riso bobo no rosto, descartei a pilha e no porta-malas do carro peguei minha espada eslava, sentia uma leve corrente elétrica ligando meu corpo ao metal.
– Vamos! Mostre se é um homem! Você é um viado! É um, ah! Ah! Ah!
A primeira espadada lambeu o meio das suas costas fazendo-o arquear, gritou e berrou como um porco no abatedouro, a lâmina era uma extensão de minhas mãos, que desceram duas, três, quatro vezes em suas costas num ritmo alucinante, com cada corte saindo uma saraivada de sangue levada pela espada.
Pisei em suas costas, em suas feridas, seus olhos desesperados voltados para trás, soluçando por causa do sangue saindo dos pulmões e indo extravasar pela boca.
– Você grita como uma bicha! Você geme mais que um viadinho dando a bunda!
Ele cuspiu sangue, tentou rir.
– Você nunca vivera como um homem.... Nunca!
– Não importa, Felipe. O que importa é que você vai engolir sua homofobia e morrer como uma bicha!
Tirei o cinto da minha calça, Felipe gritou por socorro, tentou gritar tossindo com o próprio sangue, enquanto ainda morria, engasgando com o próprio sangue tentando se arrastar para longe de mim. Vi lágrimas saindo de seus olhos enquanto eu arrombava o cu apertado dele com meu poderoso falo.
E trepei no asfalto daquele morro. Soquei em sua bunda aos gorgulhos que fazia, a suas lamúrias, vendo o muco que escorria de seu nariz, implorando para que o mata-se de uma vez.
– Me mata! Por favor! Cof, cof, cof – cuspia sangue. – Me mata... – dizia choramingando.
– Me diz?! Como é ser uma bicha, nazista! Me diz como é ser viado! – Bradei em loucura.
– Me diz!?
Levantei, juntei a espada e o decapitei com três movimentos, era o ápice da minha insanidade. Tudo era um frenesi intenso e saboroso, o cheiro de sangue abundou todo o ar de forma espantosa. Fui tragado pelo odor forte de sangue e morte fresca...
Pode ser que pareça doentio, mas nas cidades globais nazistas, onde nada para, onde as luzes te perseguem o tempo todo, onde pássaros de aço sobrevoam o ar e prédios arranham a abobada celeste, matar alguém não seja louco.
– Aliás, o que talvez você pense ser louco, seja apenas excitante. 
29/02/2016


2 comentários:

  1. Acho seus livros fodasticos! Parabéns mesmo! Queria saber se têm previsão para o lançamento de Nefastas Lembranças. Continue com o excelente trabalho. Nível Clive Barker

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    1. Opa mano! Satisfação total! Tenho previsão para julho deste ano, versão em PDF FREE talvez dois meses depois

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