No balcão, um jovem de nossa idade
mexia lentamente a cabeça em sintonia com a música elétrica. O ambiente era
propício e favorável para aquele estereótipos. Em suas costas uma suástica
brilhava na jaqueta que vestia, em LED’s vermelhos, é a última moda entre os
nazistas, uma bela jaqueta de couro com uma suástica.
Ainda era cedo e o estabelecimento
estava quase vazio, a música ainda soava numa frequência hipnótica, talvez seja
ela que transforme tantos jovens em adeptos do nazismo, é claro que este gênero
não me agrada, mas em 1918 nenhum lugar toca nem mesmo Wagner, quando mais um
Beethoven.
Essa música elétrica infectou a cidade
como a Gestapo, em todos os lugares agentes da URSS e da Alemanha Unida estão
fumando um cigarro, bebendo vodca ou espancando um mulato na esquina por não
ter obedecido ao toque de recolher para negros.
Por eu e meu amigo sermos brancos,
podíamos nos deliciar com a maravilhosa música elétrica que a cada dia forma
nazistas e mais nazistas numa progressão geométrica. Pois sim, se trata de uma
ironia, não seria menos do que isso, mas confesso que até mesmo eu já estou
aprendendo a reconhecer os estampidos, chiados, silvos e as diferentes
frequências dessa nova corrente musical.
A verdade é que este som todo parece nos
colocar numa tempestade de raios no olho do Maelstrom
pulse. O pulso eletromagnético russo que obliterou a frota marítima e aérea
da Inglaterra. Deve ser dos chiados dos mortos e das descargas elétricas
daquele genocídio que surgiram esses sons.... Não consigo pensar em outra coisa
que não isso.
É desta forma que embriagado pela
música decidimos pedir vodca, vetores de luzes dançavam pelo bar e a todo tempo
seria possível delirar como holofotes soviéticos fritando seus neurônios. Os efeitos
de luzes irritavam meus olhos, um caleidoscópio cobrindo todas as paredes do
bar e as pessoas a medida que se moviam.
Admito que nestes bares é possível
ficar meio louco, grogue ou extasiado sem o uso de álcool ou pilhas... Não sei
se hoje é o dia de ficar pilhado... Quero me manter são, não deveria ter vindo
até aqui, um pessoal bem diferente está frequentando o lugar.
– Tem isqueiro? Obrigado.
Por agora talvez só fumar, beber e
tentar esquecer estas luzes, me fritam a cabeça, não é disso que gosto, não
gosto de sentir meu cérebro derreter com essa merda toda.
– Vou dar uma carga, já volto.
No banheiro as propagandas do “mundo
global” de sempre, um neon do Tesla em alta definição, ele tinha um moicano
como corte de cabelo, ao estilo dos elmos romanos com plumagens coloridas.
– É Tesla... Essa aqui é pra você!
Peguei a pilha que sempre costumava
usar, já estava habituado aos seus volts, peguei o transmissor, o tubo da
pilha, e injetei no músculo da coxa. O tesão foi imediato, meu corpo se chacoalhou
por dois segundos, meus cabelos se espetaram e um leve deleite passou pelas
minhas entranhas correndo pelo corpo num só pulso e terminando nos meus
testículos.
Suspirei e fechei os olhos, sorri...
Estava recarregado e pronto para sobreviver àqueles espectros de cores lá fora.
Meu amigo disse que um olho meu parecia ainda um pouco desarticulado. Mas logo
voltaria ao normal.
– Pode acreditar, essas luzes estão
atrapalhando mais minha visão.... Parece
que esta onda de luminosidade só tende a se expandir.
– É o que você sempre diz.
O efeito em breve passaria, melhor, os
efeitos colaterais, eu voltaria a ficar um chato com ele, com Felipe, meu
amigo. E havia motivos para tal, eu o acompanhava para uma apresentação de
luminescência, as luzes seriam apagadas e algum artista louco e delirante por
comprimentos de ondas eletromagnéticas iria propor desenhos no negrume do bar.
Esta parece ser outra comunhão
religiosa dos com pactos ao deus Magneto e glorificação dos Nêutrons e
Elétrons, com o intuito de obter fótons. Me parece mais uma Igreja com cristãos
ortodoxos, ao invés temos um monte de nazistas... Me perdoe, talvez pague com a
língua, mas me dei-me os malditos cristãos e devolva aquele cara pregado numa
cruz para o Vaticano!
Minha mente se acelerava e meus olhos
estalados queriam gritar na escuridão. Mas logo apareceram as luminescências
flutuando no bar, começaram com fótons amarelados, depois tapei minha visão e
pedi para que Felipe me avisasse chegado ao término da apresentação.
Estranhamente me senti excitado, Felipe
neste momento estava muito próximo de mim, sentia o cheiro da sua pele, o calor
que saía do seu corpo, me imaginei chupando sua vara, minha boca salivou e
tremi por dentro, senti angústias, quando eu poderia revelar a ele meu gosto
por homens? Num país que a cada minuto um afeminado vai parar na cadeira
elétrica?
Toda vez que penso em nossa amizade,
imagino o quanto ela é forte para ser ao menos compreendido, para não ser
denunciado a delegacia... Nem sei se ele se simpatiza com o nazismo, pois até
isso é difícil falar com um ser humano sem correr o risco de ser preso por
subversão e receber umas boas doses de sessões de choques, nenhum pouco
parecidas com o pulso de dar uma recarga, agora eles podem fazer você só sentir
dor...
Tem um fio de eletrocussão em cada
distrito policial... O quanto vale este meu desejo? Se não for pelos
soviéticos, ou pela Alemanha Unida, será por minhas próprias mãos? Me embrulha
o estômago pensar que meu mundo só fara sentindo com meus desejos sexuais
realizados.
Abri os olhos e havia acabado a
apresentação alucinógena, todos pareciam dopados e que não se lembrariam caso
beijassem uma boca homossexual.
– Olá, senhores.
– Não, Demitri, sem delongas. Aquele
último lote de pilha foi ruim, não tremi nem por meio segundo.
– Eu to com uma pilha eletroloca,
agora, confia.
– Não, não quero.
– Essa aqui não é qualquer comprimento
de onda. Vai fazer seus nervos saltarem!
– Eu conheço dessas, não gosto dos
volts elevados.
– Não, você não conhece, peguei com um
cara da Gestapo. Trouxe direto da Alemanha! Essa pilha vai levar seus sangue
para o crânio e você vai disparar centelhas de tesão! Você é meu camarada.
Toma, leva uma, depois você me procura. É uma amostra grátis.
– E quem garante que as outras serão
como essa?
Ele riu e gargalhou longamente.
– A Gestapo, amigo! A Gestapo!
Levantou-se com um sorriso sardônico e
foi-se embora. Na suas costas a suástica brilhava em um neon vermelho.
O tempo passando, luzes girando, um
espectro de tom azul correndo por paredes e pinturas, um mosaico da
modernidade, aquilo girava em minha mente, ou seria o ápice de nossa amizade
que estava dando enjoos?
Não sei até que ponto tudo isso se confunde,
os brilhos e reflexos nos olhos me incomodam, não tenho este fascínio por elas,
prefiro sentir as correntes elétricas dançando em meu corpo. Queria sair
dali...
– Conhece o morro escuro?
– Só de ouvir falar. Dizem que lá é
escuro
Rimos falsamente.
– Quero recarregar lá, peguei uma pilha
com aquele cabeça raspada.
– Tudo bem, vamos lá. A vista deve ser
ao menos interessante.
– Como falei outras vezes, Felipe,
muito melhor que estas nebulosas.
– Duvido que seja, mas a experiência é
sempre excitante.
– É a palavra certa!
– Experiência?
– Excitante.
Gargalhamos e brindamos nosso último
copo de vodca que nem lembrava como havia ido parar aquela garrava na mesa, mas
sabia não ter bebido muito, ainda poderia dirigir meu Denmark, 1890, carro dinamarquês conceituado ainda, sendo o melhor
dos primeiros veículos movidos a dínamos eletromagnéticos.
Fui dirigindo e Felipe bebendo a vodca,
não andamos mais de oito quilômetros em profundo silêncio introspectivo e o
vasilhame havia acabado neste percurso, ao chegarmos ao Morro Escuro.
– O pessoal da Gestapo costuma
dispensar alguns cadáveres aqui, ouviu esta história alguma vez?
– Vi isto acontecendo. Mas o que achou
da vista? – Não queria entrar naqueles assuntos, iriam desviar minhas
pretensões.
– É uma cidade brilhante e tanto, mas
prefiro as nebulosas.
Dei um meio sorriso. Um pouco a frente
víamos de um pequeno mirante um horizonte de luzes brancas, amarelas, vermelhas
e azuis.
– Eu acho uma bela composição...
Me aproximei um pouco mais dele,
embriagado do modo como costuma ficar, mas desta vez existia uma real chance.
Com ele poderia ser tudo diferente, mas não foi.
Com um ímpeto alcoólatra ele se
desvencilhou da minha mão que tocava seu ombro, furioso fitou-me com olhos em
chamas e sibilou:
– Tenho a nítida certeza que confundiu
minha sincera amizade! Uma pena, pois pensei ser um homem de verdade, – tentei
intervir, mas não consegui, ele me cortou e subiu o tom – não pense que pode
abusar de mim se aproveitando do meu estado etílico!
– Felipe...
– Não! Eu como um cidadão de bem venho
a cumprir meu dever e declarar-te voz de prisão por homossexualidade!
Felipe caiu se contorcendo no chão com
o choque elétrico que recebera de minha arma, teve alguns espasmos e depois
tentou recuperar o fôlego enquanto iniciava o meu discurso.
– É pena, pois pensei que nada disso
seria necessário.
– Seu filho da puta. Bicha desgraçada.
Ah, ah, ah!
Dei-lhe outra sessão de choques para
que batesse os dentes, só para ter o deleite em vê-lo se contorcendo.
– É uma pena como falou, uma pena ser
heterossexual e querer me prender, mas hoje quem sorri sou eu e quem morre é
você.
– Você não tem coragem! – Bradou
cuspindo – Você não tem culhão para me matar! Você não é homem!
Eu injetei aquela pilha no músculo, a corrente
explodiu em meu cérebro, meus olhos saltaram, esqueci por que aquele corpo
estava no chão, tremi inteiro e cerrei os dentes por três segundos num deleite
onírico, a Gestapo entendia de choques.
Meu coração sentiu alegria, um riso
bobo no rosto, descartei a pilha e no porta-malas do carro peguei minha espada
eslava, sentia uma leve corrente elétrica ligando meu corpo ao metal.
– Vamos! Mostre se é um homem! Você é
um viado! É um, ah! Ah! Ah!
A primeira espadada lambeu o meio das
suas costas fazendo-o arquear, gritou e berrou como um porco no abatedouro, a
lâmina era uma extensão de minhas mãos, que desceram duas, três, quatro vezes
em suas costas num ritmo alucinante, com cada corte saindo uma saraivada de
sangue levada pela espada.
Pisei em suas costas, em suas feridas,
seus olhos desesperados voltados para trás, soluçando por causa do sangue
saindo dos pulmões e indo extravasar pela boca.
– Você grita como uma bicha! Você geme
mais que um viadinho dando a bunda!
Ele cuspiu sangue, tentou rir.
– Você nunca vivera como um homem....
Nunca!
– Não importa, Felipe. O que importa é
que você vai engolir sua homofobia e morrer como uma bicha!
Tirei o cinto da minha calça, Felipe
gritou por socorro, tentou gritar tossindo com o próprio sangue, enquanto ainda
morria, engasgando com o próprio sangue tentando se arrastar para longe de mim.
Vi lágrimas saindo de seus olhos enquanto eu arrombava o cu apertado dele com
meu poderoso falo.
E trepei no asfalto daquele morro.
Soquei em sua bunda aos gorgulhos que fazia, a suas lamúrias, vendo o muco que
escorria de seu nariz, implorando para que o mata-se de uma vez.
– Me mata! Por favor! Cof, cof, cof –
cuspia sangue. – Me mata... – dizia choramingando.
– Me diz?! Como é ser uma bicha,
nazista! Me diz como é ser viado! – Bradei em loucura.
– Me diz!?
Levantei, juntei a espada e o decapitei
com três movimentos, era o ápice da minha insanidade. Tudo era um frenesi
intenso e saboroso, o cheiro de sangue abundou todo o ar de forma espantosa.
Fui tragado pelo odor forte de sangue e morte fresca...
Pode ser que pareça doentio, mas nas
cidades globais nazistas, onde nada para, onde as luzes te perseguem o tempo
todo, onde pássaros de aço sobrevoam o ar e prédios arranham a abobada celeste,
matar alguém não seja louco.
– Aliás, o que talvez você pense ser
louco, seja apenas excitante.
29/02/2016
Acho seus livros fodasticos! Parabéns mesmo! Queria saber se têm previsão para o lançamento de Nefastas Lembranças. Continue com o excelente trabalho. Nível Clive Barker
ResponderExcluirOpa mano! Satisfação total! Tenho previsão para julho deste ano, versão em PDF FREE talvez dois meses depois
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