terça-feira, 23 de junho de 2015

Augusto dos Anjos – “Eu e outras poesias” 1884-1914

Augusto dos Anjos, necrófilo não em essência, mas sim em seu estilo, apresenta em suas poesias grande morbidez, elevada além de autores de seu período como Poe e Lovecraft, hoje em dia tão cultuados, que ambos juntos não seriam capazes de se igualar em gênero, isto por serem incrivelmente distintos, então me incomoda saber e ver que existem comparações entre estes autores estadunidenses e nosso autor brasileiro.

Essa diferença de gênero concerne exatamente na estética com a qual o autor trabalha, ateu convicto e sem sombra de fantasia alguma em seus poemas, só aí sua comparação com H.P Lovecraft seria invalidada, além de, principalmente, uma estética não do horror, do medo, da morte, mas sim uma estética ligada ao asco, aversão, nojo, sordidez, não fosse o acanhamento, resignação de Anjos, em usar do recurso da pornografia, dizer-se ia com certeza, uma estética literária propriamente Gore do final século XIX, que só no começo do século XXI começou a existir com mais nitidez.

Ainda cabe ressaltar em sua estética a grande prolixidade com que escreve, mas se deve principalmente ao nosso mau ensino do século XX, que nos privou de algumas palavras, digamos, científicas. É vasto seu conhecimento sobre as biologias, advindo da classe burguesa no Brasil, obteve excelente ensino, o que se reflete em suas obras que não são nada aconselhadas àqueles que estão acostumados a ler livros que fazem parte da indústria cultural, para entendê-lo ao todo, mesmo experiente, precisará de um dicionário ao lado.

“Eu e outras poesias” reúne todas as poesias de Augusto Anjos, aqui prezo não pela discriminação e qualidade poética do autor, mas sim sobre sua temática. E fiquei surpreendido ao entrar em contato com esta obra, que mostrou poesias de canibalismo, pedofilia, prostituição, degradação, morbidez, sordidez, vômito, escatologia, vermes e vísceras, algumas da essências do gore, deixando a desejar apenas a pornografia, não o erotismo, que isto não faz parte do gore, mas sim a pornografia nua e crua, agressiva como se é.

A única pena é ter falecido tão jovem e ter nos deixado um legado pequeno, porém muito substancial dado o teor de suas poesias e o período em que vivia. Poderia transcrever muitas de suas poesias, uma melhor que a outra, mas um livro como este vale a pena se surpreender com cada uma delas à primeira vista, com o livro em mãos. 

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