Augusto dos Anjos, necrófilo não em essência, mas
sim em seu estilo, apresenta em suas poesias grande morbidez, elevada além de
autores de seu período como Poe e Lovecraft, hoje em dia tão cultuados, que
ambos juntos não seriam capazes de se igualar em gênero, isto por serem
incrivelmente distintos, então me incomoda saber e ver que existem comparações
entre estes autores estadunidenses e nosso autor brasileiro.
Essa diferença de gênero concerne exatamente na
estética com a qual o autor trabalha, ateu convicto e sem sombra de fantasia
alguma em seus poemas, só aí sua comparação com H.P Lovecraft seria invalidada,
além de, principalmente, uma estética não do horror, do medo, da morte, mas sim
uma estética ligada ao asco, aversão, nojo, sordidez, não fosse o acanhamento,
resignação de Anjos, em usar do recurso da pornografia, dizer-se ia com
certeza, uma estética literária propriamente Gore do final século XIX, que só
no começo do século XXI começou a existir com mais nitidez.
Ainda cabe ressaltar em sua estética a grande prolixidade
com que escreve, mas se deve principalmente ao nosso mau ensino do século XX,
que nos privou de algumas palavras, digamos, científicas. É vasto seu
conhecimento sobre as biologias, advindo da classe burguesa no Brasil, obteve
excelente ensino, o que se reflete em suas obras que não são nada aconselhadas
àqueles que estão acostumados a ler livros que fazem parte da indústria cultural,
para entendê-lo ao todo, mesmo experiente, precisará de um dicionário ao lado.
“Eu e
outras poesias” reúne todas as poesias de Augusto Anjos, aqui prezo não pela
discriminação e qualidade poética do autor, mas sim sobre sua temática. E
fiquei surpreendido ao entrar em contato com esta obra, que mostrou poesias de
canibalismo, pedofilia, prostituição, degradação, morbidez, sordidez, vômito,
escatologia, vermes e vísceras, algumas da essências do gore, deixando a
desejar apenas a pornografia, não o erotismo, que isto não faz parte do gore,
mas sim a pornografia nua e crua, agressiva como se é.
A
única pena é ter falecido tão jovem e ter nos deixado um legado pequeno, porém
muito substancial dado o teor de suas poesias e o período em que vivia. Poderia
transcrever muitas de suas poesias, uma melhor que a outra, mas um livro como
este vale a pena se surpreender com cada uma delas à primeira vista, com o
livro em mãos.
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